Vivência na Amazônia e Inovação em Saúde: Como Enfrentar os Desafios da Crise Climática
SAÚDE
Por Dayanna Quintanilha Palmer, médica e pesquisadora da Afya
7/28/202510 min ler
Vertical Saúde
d e s e n v o l v i d o p o r


Vivência na Amazônia e inovação em saúde:
Como enfrentar os desafios da crise climática
Nesta entrevista, Dra. Dayanna Quintanilha Palmer discute os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde, estratégias de mitigação e o papel crucial da educação e da informação para promover a prevenção e a adaptação da população frente a esses desafios.
Vivência na Amazônia e inovação em saúde: Como enfrentar os desafios da crise climática
Nesta entrevista, Dra. Dayanna Quintanilha Palmer discute os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde, estratégias de mitigação e o papel crucial da educação e da informação para promover a prevenção e a adaptação da população frente a esses desafios.
Com uma carreira marcada pela interseção entre prática clínica, pesquisa científica e inovação tecnológica, a Dra. Dayanna Quintanilha Palmer alia conhecimento acadêmico à atuação estratégica em saúde. Médica formada pela Universidade Federal Fluminense, com residência em Clínica Médica e mestrado em Ciências da Saúde com foco em aplicações de Machine Learning, ela integra o time da Afya, maior ecossistema de educação e soluções para a prática médica no Brasil.
Quais são as principais estratégias de adaptação e mitigação para reduzir os impactos das mudanças climáticas na saúde?
Empresas, governos e sociedade civil podem adotar diversas estratégias para reduzir os impactos das mudanças climáticas na saúde. Entre elas, destacam-se a promoção de práticas sustentáveis, o incentivo ao uso de tecnologias limpas, a redução da emissão de gases de efeito estufa e o fortalecimento dos sistemas de saúde, por meio da melhoria da infraestrutura e do aumento da capacidade de resposta dos serviços diante de eventos climáticos extremos e surtos de doenças relacionadas ao clima. Na Afya, contribuímos com essas estratégias por meio das pesquisas desenvolvidas no Research Center, nosso núcleo de pesquisa, que atua na análise de dados para gerar previsibilidade, tanto em relação aos eventos climáticos extremos quanto aos impactos desses eventos na saúde.
De que forma a conscientização e a educação da população podem ajudar na prevenção de problemas de saúde relacionados ao clima?
É fundamental que a população compreenda os riscos que as mudanças climáticas representam para a saúde. É necessário informar sobre os impactos de eventos como ondas de calor, inundações e o aumento de doenças transmitidas por vetores, para que as pessoas estejam conscientes e adotem comportamentos mais seguros e saudáveis. Também é essencial estimular práticas que reduzam a vulnerabilidade, como o uso de repelentes, o consumo de água potável e a busca por locais seguros durante situações extremas. Quando as pessoas entendem os riscos, ficam mais propensas a seguir as medidas de proteção.
Quais grupos populacionais são mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas na saúde?
Alguns grupos populacionais são consistentemente apontados em estudos e pesquisas como os mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas, como crianças, idosos e gestantes, que apresentam menor capacidade de adaptação fisiológica às alterações ambientais e aos eventos climáticos extremos. Pessoas em situação de rua também estão entre os mais afetados, pois ficam diretamente expostas tanto às altas temperaturas quanto às inundações e seus desdobramentos. Além disso, comunidades de baixa renda sofrem impactos significativos, já que, em geral, vivem em áreas mais suscetíveis a riscos climáticos e possuem menor acesso a serviços de saúde e infraestrutura adequada.
Como as políticas públicas podem ajudar a proteger as comunidades mais vulneráveis?
As políticas públicas são fundamentais para proteger as comunidades mais vulneráveis. É necessário garantir o acesso a serviços e recursos básicos, como água potável, saneamento e atendimento de saúde de qualidade, direitos essenciais de toda pessoa. Investir em infraestrutura, moradias e instalações em áreas mais expostas a eventos climáticos extremos também é crucial, pois facilita a mobilização rápida da população para locais seguros em situações de risco.
Quais doenças se tornam mais frequentes ou graves devido às alterações no clima?
As mudanças climáticas influenciam tanto a frequência quanto a gravidade de diversas doenças, por meio de diferentes mecanismos. Uma revisão recente publicada pela BMJ Open destaca algumas das principais doenças afetadas, especialmente as transmitidas por vetores. O aumento da temperatura e as alterações nos padrões de chuva favorecem a expansão geográfica de mosquitos e outros vetores, resultando em mais casos de doenças como dengue e malária. Segundo dados do Afya Whitebook (aplicativo que auxilia médicos na tomada de decisão clínica), as buscas por informações médicas sobre dengue quase triplicaram no Brasil entre novembro de 2024 e janeiro de 2025.
Além disso, as queimadas aumentam a vulnerabilidade e agravam doenças respiratórias, como a asma. Doenças cardiovasculares podem ser agravadas por eventos como ondas de calor. A contaminação da água provocada por enchentes contribui para o surgimento de doenças diarreicas infecciosas. Eventos climáticos extremos, como furacões e incêndios, também impactam significativamente a saúde mental das pessoas afetadas, causando transtornos psicológicos e estresse pós-traumático.
Quais são os principais desafios para profissionais de saúde que atuam na região Amazônica diante desse cenário?
Tive a oportunidade de morar por um ano em Manaus, no Amazonas, e durante esse período participei de missões em comunidades indígenas e ribeirinhas. A dispersão geográfica na região é impressionante: levávamos dias de barco para chegar a algumas comunidades e, em alguns casos, era necessário pegar embarcações menores, remar e até fazer trilhas carregando medicamentos nas costas. O acesso a recursos é muito limitado, a infraestrutura de saúde é precária e há dificuldade para obter tecnologias e medicamentos essenciais. Muitas vezes, precisávamos de exames de imagem que não estavam disponíveis, assim como tratamentos específicos que não podíamos oferecer. Lembro que, naquele período, prescrevi o primeiro medicamento que algumas pessoas haviam tomado na vida, algo realmente marcante. Embora pareça uma realidade distante, ela está mais próxima do que imaginamos.
Como o ensino e a prática médica podem ajudar a criar soluções para reduzir os impactos do clima na saúde pública?
A educação e a prática médica são essenciais para enfrentarmos os desafios trazidos pelas mudanças climáticas. É fundamental que esses temas estejam incorporados às grades curriculares dos cursos de medicina, garantindo que a relação entre clima e saúde seja constantemente abordada na formação de médicos e futuros profissionais. Também é importante incentivar a pesquisa e a inovação, promovendo estudos que busquem soluções para reduzir os impactos das mudanças climáticas na saúde pública.
Uma ferramenta importante nesse contexto é o Radar Whitebook, funcionalidade do aplicativo Afya Whitebook, que permite aos médicos monitorar surtos de doenças em tempo real em diferentes regiões do país, por meio da análise de grandes volumes de dados. Diante das mudanças climáticas, essas informações ganham relevância especial, pois o clima pode alterar os padrões de doenças infecciosas, aumentando casos de doenças transmitidas por vetores e problemas respiratórios. O monitoramento em tempo real oferecido pelo aplicativo ajuda a identificar precocemente esses surtos, apoiando respostas mais rápidas e eficazes para minimizar seus impactos na saúde pública. É a tecnologia a serviço da adaptação climática.
Foto: Dayanna Quintanilha Palmer, médica e pesquisadora da Afya


Com uma carreira marcada pela interseção entre prática clínica, pesquisa científica e inovação tecnológica, a Dra. Dayanna Quintanilha Palmer alia conhecimento acadêmico à atuação estratégica em saúde. Médica formada pela Universidade Federal Fluminense, com residência em Clínica Médica e mestrado em Ciências da Saúde com foco em aplicações de Machine Learning, ela integra o time da Afya, maior ecossistema de educação e soluções para a prática médica no Brasil.
Quais são as principais estratégias de adaptação e mitigação para reduzir os impactos das mudanças climáticas na saúde?
Empresas, governos e sociedade civil podem adotar diversas estratégias para reduzir os impactos das mudanças climáticas na saúde. Entre elas, destacam-se a promoção de práticas sustentáveis, o incentivo ao uso de tecnologias limpas, a redução da emissão de gases de efeito estufa e o fortalecimento dos sistemas de saúde, por meio da melhoria da infraestrutura e do aumento da capacidade de resposta dos serviços diante de eventos climáticos extremos e surtos de doenças relacionadas ao clima. Na Afya, contribuímos com essas estratégias por meio das pesquisas desenvolvidas no Research Center, nosso núcleo de pesquisa, que atua na análise de dados para gerar previsibilidade, tanto em relação aos eventos climáticos extremos quanto aos impactos desses eventos na saúde.
De que forma a conscientização e a educação da população podem ajudar na prevenção de problemas de saúde relacionados ao clima?
É fundamental que a população compreenda os riscos que as mudanças climáticas representam para a saúde. É necessário informar sobre os impactos de eventos como ondas de calor, inundações e o aumento de doenças transmitidas por vetores, para que as pessoas estejam conscientes e adotem comportamentos mais seguros e saudáveis. Também é essencial estimular práticas que reduzam a vulnerabilidade, como o uso de repelentes, o consumo de água potável e a busca por locais seguros durante situações extremas. Quando as pessoas entendem os riscos, ficam mais propensas a seguir as medidas de proteção.
Quais grupos populacionais são mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas na saúde?
Alguns grupos populacionais são consistentemente apontados em estudos e pesquisas como os mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas, como crianças, idosos e gestantes, que apresentam menor capacidade de adaptação fisiológica às alterações ambientais e aos eventos climáticos extremos. Pessoas em situação de rua também estão entre os mais afetados, pois ficam diretamente expostas tanto às altas temperaturas quanto às inundações e seus desdobramentos. Além disso, comunidades de baixa renda sofrem impactos significativos, já que, em geral, vivem em áreas mais suscetíveis a riscos climáticos e possuem menor acesso a serviços de saúde e infraestrutura adequada.
Como as políticas públicas podem ajudar a proteger as comunidades mais vulneráveis?
As políticas públicas são fundamentais para proteger as comunidades mais vulneráveis. É necessário garantir o acesso a serviços e recursos básicos, como água potável, saneamento e atendimento de saúde de qualidade, direitos essenciais de toda pessoa. Investir em infraestrutura, moradias e instalações em áreas mais expostas a eventos climáticos extremos também é crucial, pois facilita a mobilização rápida da população para locais seguros em situações de risco.
Quais doenças se tornam mais frequentes ou graves devido às alterações no clima?
As mudanças climáticas influenciam tanto a frequência quanto a gravidade de diversas doenças, por meio de diferentes mecanismos. Uma revisão recente publicada pela BMJ Open destaca algumas das principais doenças afetadas, especialmente as transmitidas por vetores. O aumento da temperatura e as alterações nos padrões de chuva favorecem a expansão geográfica de mosquitos e outros vetores, resultando em mais casos de doenças como dengue e malária. Segundo dados do Afya Whitebook (aplicativo que auxilia médicos na tomada de decisão clínica), as buscas por informações médicas sobre dengue quase triplicaram no Brasil entre novembro de 2024 e janeiro de 2025.
Além disso, as queimadas aumentam a vulnerabilidade e agravam doenças respiratórias, como a asma. Doenças cardiovasculares podem ser agravadas por eventos como ondas de calor. A contaminação da água provocada por enchentes contribui para o surgimento de doenças diarreicas infecciosas. Eventos climáticos extremos, como furacões e incêndios, também impactam significativamente a saúde mental das pessoas afetadas, causando transtornos psicológicos e estresse pós-traumático.
Quais são os principais desafios para profissionais de saúde que atuam na região Amazônica diante desse cenário?
Tive a oportunidade de morar por um ano em Manaus, no Amazonas, e durante esse período participei de missões em comunidades indígenas e ribeirinhas. A dispersão geográfica na região é impressionante: levávamos dias de barco para chegar a algumas comunidades e, em alguns casos, era necessário pegar embarcações menores, remar e até fazer trilhas carregando medicamentos nas costas. O acesso a recursos é muito limitado, a infraestrutura de saúde é precária e há dificuldade para obter tecnologias e medicamentos essenciais. Muitas vezes, precisávamos de exames de imagem que não estavam disponíveis, assim como tratamentos específicos que não podíamos oferecer. Lembro que, naquele período, prescrevi o primeiro medicamento que algumas pessoas haviam tomado na vida, algo realmente marcante. Embora pareça uma realidade distante, ela está mais próxima do que imaginamos.
Como o ensino e a prática médica podem ajudar a criar soluções para reduzir os impactos do clima na saúde pública?
A educação e a prática médica são essenciais para enfrentarmos os desafios trazidos pelas mudanças climáticas. É fundamental que esses temas estejam incorporados às grades curriculares dos cursos de medicina, garantindo que a relação entre clima e saúde seja constantemente abordada na formação de médicos e futuros profissionais. Também é importante incentivar a pesquisa e a inovação, promovendo estudos que busquem soluções para reduzir os impactos das mudanças climáticas na saúde pública.
Uma ferramenta importante nesse contexto é o Radar Whitebook, funcionalidade do aplicativo Afya Whitebook, que permite aos médicos monitorar surtos de doenças em tempo real em diferentes regiões do país, por meio da análise de grandes volumes de dados. Diante das mudanças climáticas, essas informações ganham relevância especial, pois o clima pode alterar os padrões de doenças infecciosas, aumentando casos de doenças transmitidas por vetores e problemas respiratórios. O monitoramento em tempo real oferecido pelo aplicativo ajuda a identificar precocemente esses surtos, apoiando respostas mais rápidas e eficazes para minimizar seus impactos na saúde pública. É a tecnologia a serviço da adaptação climática.
Foto: Dayanna Quintanilha Palmer, médica e pesquisadora da Afya

